Um político declamaria um discurso sisudo, mesmo ofendido – e, concluída a conferência de imprensa, ainda poria os assessores a ligar para os directores dos jornais, tentando capitalizar a falha. Um futebolista mandaria os jornalistas todos para casa da mãezinha deles, questionando inclusive o carácter da senhora – e depois lá andariam repórteres e editores a tentar resolver o problema, que isto não pode ser assim, que dependemos todos uns dos outros, que o que é preciso é paz. José Carlos Pereira, não. Confrontado numa festa, tentou fugir à questão, depois negou timidamente ter problemas com o álcool – e, finalmente, apelou ao coração dos repórteres: “Pensem lá um bocadinho: se fosse convosco, não ficavam incomodados?”
Talvez se pudesse ver aqui paternalismo. José Carlos Pereira podia achar que os jornalistas de TV são todos tontos e, portanto, precisam mesmo daquele pedido para que parem um instante a considerar o imbróglio que estão a causar-lhe. Não é o caso. José Carlos Pereira, um dos principais actores de telenovelas da sua geração, tem medo dos jornalistas. Dos directores, dos editores, dos próprios repórteres. O que talvez diga alguma coisa sobre o nosso jornalismo de TV. Mas diz de certeza sobre a nossa indústria de televisão e a sua imensa fragilidade.
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 25 de Julho de 2010