Geoff Ogilvy, Zach Johnson, Kenny Perry. Enquanto Tiger Woods esteve afastado, a alternância na frente da classificação da FedEx Cup 2009 não parou. Até que Tiger regressou à competição e desatou a ganhar torneios. Em cinco meses, ganhou outros tantos. E, embora não tenha vencido nenhum dos quatro majors do ano (o que acontece pela primeira vez desde 2004), é ele quem parte à frente para os play offs da competição anual, que começam este fim-de-semana, com o The Barclays, a concluir ainda hoje no Liberty National Golf Club, em New Jersey.
Para os patrocinadores, é excelente. Depois de terem caído 36% ao longo dos oito meses que Tiger esteve ausente, as audiências da FedEx Cup subiram a pique a partir de Março, altura em que o líder do ranking mundial regressou à competição. Mas nem por isso a actual liderança tem grandes vantagens, para o californiano, no que diz respeito à tentativa de recuperar o troféu que conquistou em 2007 e perdeu no ano passado (por culpa da lesão) para o fijiano Vijay Singh. Todos os 125 jogadores classificados para os quatro torneios finais têm, entretanto, a sua pontuação reacertada para algures entre os 82.000 e os 100.000 pontos. Ora, como cada um dos torneios distribui mais de 190.000, basta uma boa ou uma má classificação para mudar quase tudo.
Criada em 2007, a FedEx Cup permanece a maior competição mundial de golfe, apesar das vontades que o European Tour conseguiu reunir em torno da nova Race To Dubai. Para além de todos os prémios monetários acumulados ao longo da temporada, o jogador que a 27 de Setembro concluir o The Tour Championship na liderança do campeonato annual americano receberá um total de 10 milhões dólares, dos quais nove no imediato e um em formato de pensão de reforma, a distribuir na velhice. E a SportTv, que este ano fez um enorme investimento na modalidade, trará tudo em directo (assim como acaba de trazer a Solheim Cup e em Outubro trará a President’s Cup).
O primeiro field, já se sabe, inclui os 125 primeiros da ordem de mérito americana. Para algumas super-estrelas, não foi fácil chegar lá. Pádraig Harrington, Adam Scott, Justin Rose ou Sergio Garcia, por exemplo, só nos últimos torneios garantiram o seu lugar. Andres Romero, Trevor Immelman, Rocco Mediate, Ryan Palmer, Johnson Wagner, Chez Reavie, Parker McLachlin ou Eric Axley, todos eles com brilharetes acumulados ao longo dos últimos dois anos, ficaram de fora. Os veteranos Corey Pavin, Tom Watson, Tommy Armour III, Tom Lehman, Jose Maria Olazabal, Sandy Lyle, Paul Azinger, Mark O’Meara e Greg Norman também.
4 TORNEIOS PARA A HISTÓRIA
Em 2008, Vijay Singh e Camilo Villegas, respectivamente fijiano e colombiano, ganharam cada um deles dois torneios do playoff consecutivos. Acontece que 2009 não é ano de Ryder Cup – e que, desta vez, americanos e europeus querem ter uma palavra a dizer. Passa tudo na SporTV.
The Barclays
Campo: Liberty National Golf Club, Jersey City, New Jersey
Data: 27-30 de Agosto
Field: 125 primeiros classificados
Cut: ao fim de 36 buracos (passam os 70 primeiros + empates)
Prize Money para o vencedor: $1,260,000
Pontos FedEx para o vencedor: 2500
Campeão em título: Vijay Singh (Ilhas Fiji)
TRANSMISSÃO SPORTV: quinta, sexta e sábado, 20.00-23.00; domingo, 19.00-23.00
Deutsche Bank Championship
Campo: TPC Boston, Norton, Massachusetts
Data: 04-07 de Setembro
Field: 100 primeiros classificados
Cut: ao fim de 36 buracos (passam os 70 primeiros + empates)
Prize Money para o vencedor: $1,260,000
Pontos FedEx para o vencedor: 2500
Campeão em título: Vijay Singh (Ilhas Fiji)
TRANSMISSÃO SPORTV: quinta, sexta e sábado, 20.00-23.00; domingo, 19.00-23.00
BMW Championship
Campo: Cog Hill G&CC, Lemont, Illinois
Data: 10-13 de Setembro
Field: 70 primeiros classificados
Cut: não tem
Prize Money para o vencedor: $1,260,000
Pontos FedEx para o vencedor: 2500
Campeão em título: Camilo Villegas (Colômbia)
TRANSMISSÃO SPORTV: quinta, sexta e sábado, 20.00-23.00; domingo, 19.00-23.00
The Tour Championship presented by Coca-Cola
Campo: East Lake GC, Atlanta, Georgia
Data: 24-27 de Setembro
Field: 30 primeiros classificados
Cut: não tem
Prize Money para o vencedor: $1,260,000
Pontos FedEx para o vencedor: 2500
Campeão em título: Camilo Villegas (Colômbia)
TRANSMISSÃO SPORTV: quinta e sexta, 18-23; sábado, 17.00-23.00; domingo, 18.30-23.00
ONDE ESTÃO AS ESTRELAS DE 2008?
Dos quatro primeiros de 2008, respectivamente Vijay Singh, Camilo Villegas, Sergio Garcia e Anthony Kim, não há um só no top 20 de 2009, embora se tenham qualificado todos para os play offs. Tiger lidera destacadíssimo, mesmo não tendo ganho qualquer dos torneios do Grand Slam.
POSIÇÃO JOGADOR TORNEIOS TOP 10 PONTOS
1º Tiger Woods 13 11 3,431
2º Steve Stricker 18 8 2,155
3º Zach Johnson 21 7 2,019
4º Kenny Perry 20 7 1,993
5º Lucas Glover 22 5 1,742
6º Phil Mickelson 14 6 1,630
7º Y.E. Yang 19 4 1,621
8º Geoff Ogilvy 16 4 1,603
9º Brian Gay 21 4 1,540
10º Sean O’Hair 19 6 1,474
11º Retief Goosen 16 4 1,459
12º David Toms 21 7 1,394
13º Nick Watney 19 3 1,388
14º Hunter Mahan 20 6 1,282
15º Stewart Cink 18 4 1,225
16º Jim Furyk 18 7 1,188
17º Rory Sabbatini 19 4 1,163
18º Paul Casey 12 3 1,161
19º Dustin Johnson 20 4 1,155
20º John Rollins 21 4 1,112
35 MILHÕES DE DÓLARES EM JOGO
A 27 de Setembro, findo o The Tour Championship, serão distribuídos como prémio anual (portanto, além do prize money do próprio torneio) 35 milhões de dólares, mais do que no The Masters, no US Open, no British Open e no PGA Championship juntos. O primeiro classificado ganha 10 milhões.
CLASSIFICADO PRIZE MONEY*
1º $ 10,000,000
2º $ 3,000,000
3º $ 2,000,000
4º $ 1,500,000
5º $ 1,000,000
6º $ 800,000
7º $ 700,000
8º $ 600,000
9º $ 550,000
10º $ 500,000
11º $ 300,000
12º $ 290,000
13º $ 280,000
14º $ 270,000
15º $ 250,000
16º $ 245,000
17º $ 240,000
18º $ 235,000
19º $ 230,000
20º $ 225,000
* prémios até ao 125º classificado
39 TORNEIOS, 26 VENCEDORES
A época regular do PGA Tour voltou a provar que apenas os génios conseguem sobrepor-se claramente à concorrência. Tiger Woods tem cinco vitórias, mais do dobro das dos segundos classificados: Geoff Ogilvy, Zach Johnson, Kenny Perry, Phil Mickelson, Brian Gay e Steve Stricker, todos com duas.
* valores em dólares americanos (câmbio: $1 = € 0,69)
DATA TORNEIO VENCEDOR PRIZE MONEY PONTOS FEDEX
8-11/01 Mercedes-Benz Championship Geoff Ogilvy $1,120,000 500
15-18/01 Sony Open in Hawaii Zach Johnson $972,000 500
21-25/01 The 50th Bob Hope Classic Pat Perez $918,000 500
29/01-01/02 FBR Open
05-08/02 Buick Invitational
12-15/02 AT&T Pebble Beach Pro-Am Dustin Johnson $1,098,000 500
19-22/02 Northern Trust Open Phil Mickelson $1,134,000 500
26/02-01/03 Mayakoba Classic at Riviera Maya Mark Wilson $648,000 250
25/02-01/03 WGC-Accenture Match Play Champ. Geoff Ogilvy $1,400,000 550
05-08/03 The Honda Classic Y.E. Yang $1,008,000 500
12-15/03 Puerto Rico Open Michael Bradley $630,000 250
12-15/03 WGC- CA Championship Phil Mickelson $1,400,000 550
19-22/03 Transitions Championship Retief Goosen $972,000 500
26-29/03 Arnold Palmer Invitational Tiger Woods $1,080,000 500
02-05/04 Shell Houston Open Paul Casey $1,026,000 500
09-12/04 Masters Tournament Angel Cabrera $1,350,000 600
16-19/04 Verizon Heritage
23-26/04 Zurich Classic of New Orleans Jerry Kelly $1,134,000 500
30/04-03/05 Quail Hollow Championship Sean O'Hair $1,170,000 500
07-10/05 The Players Championship Henrik Stenson $1,710,000 600
14-17/05 Valero Texas Open Zach Johnson $1,098,000 500
21-24/05 HP Byron Nelson Championship Rory Sabbatini $1,170,000 500
28-31/05 Crowne Plaza Invitational Steve Stricker $1,116,000 500
04-07/06 The Memorial Tournament Tiger Woods $1,080,000 500
11-14/06 St. Jude Classic
18-21/06 U.S. Open Championship Lucas Glover $1,350,000 600
25-28/06 Travelers Championship Kenny Perry $1,080,000 500
02-05/07 AT&T National
09-12/07 John Deere Classic Steve Stricker $774,000 500
16-19/07 U.S. Bank Championship Bo Van Pelt $720,000 250
16-19/07 British Open
23-26/07 RBC Canadian Open Nathan Green $918,000 500
30/07-02/08 Buick Open
06-09/08 Legends Reno-Tahoe Open John Rollins $540,000 250
06-09/08 WGC-Bridgestone Invitational Tiger Woods $1,400,000 550
13-16/08 PGA Championship
20-23/08 Wyndham Championship Ryan Moore $918,000 500
Estudei-o de longe, à porta do hotel, esperando-me nervosinho como os namorados de Lisboa se esperavam em frente à Loja das Meias antes do advento do telemóvel, e murmurei: “É trafulha.” Testei-o pouco depois, pagando (sem resistência da parte dele) os dois gin tónicos com que seláramos o nosso encontro (realizado a pedido dele), e fiquei com a certeza absoluta: “Pois claro que é trafulha.”
E, no entanto, fiz tudo o que ele me pediu. Redigi memorandos, elaborei estratégias, cobrei favores, meti cunhas. No fim, ainda juntei duas dezenas de amigos , persuadindo-os a fazer tudo o que, entretanto, o trafulha lhes pedia a eles também. Há duas semanas, mandei-lhes um email: “Peço-vos desculpa, fui enganado e arrastei-vos comigo. O dito ‘projecto’, afinal, era só para sacar subsídios e deixar-nos a todos mal.”
Envergonhado, prontifiquei-me para o óbvio: preparar um processo colectivo, contratar um advogado, pagar as despesas. Apenas seis meses depois daquele encontro num bar de hotel, cheio de planos para a conquista sumária deste mundo e do outro, estou mais pobre, mais envergonhado, mais descredibilizado e mais ressentido para com a espécie. E, no entanto, algo que me diz que faria tudo outra vez: que ouviria aquele homem rabino e de olhar desconcentrado, que acreditaria na sua descrição do paraíso, que lhe entregaria chave-na-mão tudo o que me pedisse – e que, inclusive, arrastaria os meus melhores contactos para o seu “projecto”.
Percebi-o através do burlão que a GNR de Santo Tirso apanhou aqui há dias a tentar sacar a um idoso mais algum dinheiro para além dos 400 euros que já lhe sacara na véspera. Eu explico. Um tipo de 39 anos, a quem nunca fora conhecida qualquer profissão mas também nunca haviam faltado os carros alemães e os sapatos italianos, foi detido na semana passada, na Vila das Aves, quando realizava um peditório fraudulento, usando como isco as corporações de bombeiros da região. O esquema era profissionalíssimo (até recibos para o IRS envolvia). E, contudo, não era essa a sua principal arma.
A segunda mais importante das suas armas era a disponibilidade das pessoas para oferecerem dinheiro, hábito que em alguns casos é solidariedade e noutros tantos culpa. “Se fosse para os bombeiros, dava. Dou sempre. Tenho dinheiro”, dizia o idoso das Aves, atónito perante o aparato de polícias em torno daquele rapaz tão simpático que ainda na véspera lhe levara os 400 euros que apodreciam na caixa dos biscoitos. A mais importante arma de todas, porém, não era o voluntarismo: era a credulidade. Mais do que isso: o desejo da credulidade. “As pessoas acreditam em tudo. É fácil enganá-las”, explicou o burlão aos jornais, já algemado pela guarda.
O mesmo, de alguma forma, se passou comigo. Comigo e com vários dos outros enganados, nomeadamente os nados ilhéus. Prometeram-nos uma coisa em grande, sediada na terra-mãe, pujante o suficiente para colocar em breve as ilhas no mapa das coisas grandes – e nós quisemos acreditar, embora tudo naquele homem nervosinho e naquela rapariga tonta de que ele se fazia acompanhar nos aconselhasse o contrário. No fundo, comprámos o sonho – e, no dia em que os virmos a ambos esticar os pulsos, deixando-se finalmente algemar, não é de excluir que tenhamos pena deles.
Afinal, é mais ou menos assim que funciona a pequena economia portuguesa, não é? Pedem-nos para pagar a 30 dias e ao fim de 120 ainda estão ao telefone: “Não recebeu?! Já pus esse cheque no correio há que tempos…” Nem sequer é burla: é como as coisas funcionam. Não há dinheiro, mas há stocks. Não há stocks, mas há crédito. Não há crédito, mas há perspectivas. E, portanto, encomenda-se. Matérias-primas, mão-de-obra, serviços: não falta nada a ninguém – nem mesmo os carros alemães ou os sapatos italianos. No fim se verá se é altura de fechar a porta e quem vem, afinal, atrás do cortejo.
Uma ficção? Claro. Mas uma ficção mobilizadora, como mostra o número de pategos que se deixam enganar todos os dias, entre pequenos artífices e grandes fornecedores, profissionais liberais e criativos das mais diferentes áreas. O que é importante é que cada fornecedor entalado tenha uma ideia sobre como passar o entalão ao seguinte. Assim como assim, o Estado faz parecido: é o primeiro a cobrar e o último a pagar – e, de resto, já se sabe, apenas se lixa quem cumpre.
Chamam-lhe “economia dinâmica”, mas é mais do que isso: é psicologia social pura. Bem precisavam os escandinavos, que nunca ficam a dever um tusto a ninguém, de descobri-la: matavam-se bem menos.
CRÓNICA ("Muito Bons Somos Nós"). NS', 29 de Agosto de 2009
A espécie humana, já se sabe, é invejosa – e quando um homem como José Rodrigues dos Santos se reclama escritor, por exemplo, essa inveja vem de imediato ao de cima. José Rodrigues dos Santos, o jornalista, pode escrever os livros que quiser. José Rodrigues dos Santos, o pivot de televisão, pode vender os exemplares que quiser. José Rodrigues dos Santos, o repórter de guerra, pode dedicar à escrita quanto do seu tempo livre quiser. O facto é que nunca passará disso: de um jornalista, de um repórter de guerra, de um pivot de televisão. Escritor, não será.
De forma que, quando José Rodrigues dos Santos arrancou com um novo programa de entrevistas na RTP-N, foi a isso que nos agarrámos. “Conversas de Escritores?” Portanto: conversas de “vários” escritores, ou “entre” escritores, pressupondo que José Rodrigues dos Santos também o é? “Que vaidoso”, suspirámos. Vaidoso e, aliás, ignorante, se em pleno Telejornal é capaz de antecipar a entrevista dessa mesmo noite com Hubert Reeves dizendo que se trata do “Carl Sagan da Europa”, quando Reeves é canadiano.
Tiro ao lado, como sempre. Pode-se gostar ou não de José Rodrigues dos Santos – o facto é que se trata de um escritor. Agora, é mais difícil de aceitar que o pivot do Telejornal use a antena desse Telejornal para promover um programa vocacionado para a deificação da sua pessoa que, entretanto, conseguiu garantir noutro canal do grupo. Principalmente quando esse grupo é público.
CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 29 de Agosto de 2009