Mudam os governos, mudam as administrações, muda a actualidade, os críticos passam a defensores e os defensores a críticos. Na RTP, ao fim de quatro anos, muda (ou pode mudar) tudo. Menos uma coisa: as suspeitas de que a estação faz favores aos titulares do regime. Esteja no poder o PS ou o PSD, a insinuação volta sempre: a RTP defende o governo.
Mas nunca, naturalmente, é o Conselho de Redacção a sugeri-lo. “Naturalmente”? Sim, “naturalmente”: muito dramática teria de ser a situação para serem os próprios jornalistas a acusarem os jornalistas (a acusarem os colegas e a acusarem-se a si próprios) de favorecimento ao regime. Era preciso, talvez, que as suspeitas fossem um pouco mais do que suspeitas.
Pois esse é o único raciocínio ao dispor de quem lê o comunicado emitido esta semana pelo Conselho de Redacção da RTP/Açores. Ao longo de vários parágrafos, os jornalistas-eleitos-pelos-jornalistas elogiam umas e condenam outras decisões da direcção de informação. Pelo meio, lá vem a palavra: “censura”. Há ou não censura quando uns programas são tão obviamente negligenciados em relação a outros? E há ou não censura quando as reportagens que chegam a Lisboa, via “Notícias do Atlântico” (RTPN), protegem tão cabalmente os titulares do regime açoriano e as suas empresas de mão (como a SATA)?
O Departamento de Informação diz que não. Mas, entretanto, é objecto de perguntas e de comunicados que em Lisboa, apesar das polémicas, ninguém ousa fazer.
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 20 de Setembro de 2009