Domingo, 2 de Maio de 2010
publicado por JN em 2/5/10



É um dos mais titulados treinadores de golfe nacionais e aquele que em mais destaque tem estado de há três anos a esta parte. Eduardo Maganinho, 48 anos, nasceu filho de um caddie e de uma cozinheira do Oporto Golf Club e nunca quis ser outra coisa senão profissional de driving range. Só este ano, já ganhou os campeonatos nacionais de clubes em sub-14 e sub-18, para além de assistir à vitória do aluno Manuel Alexandre Violas na Copa Andalucia. Agora, quer vencer o Campeonato Nacional de Clubes no escalão de absolutos, de forma a assinalar na perfeição o 120º aniversário do Oporto e do golfe em Portugal.


 


O pai era caddie, a mãe era cozinheira e um dos irmãos chegou a ser golf pro (agora é green keeper). A história de Eduardo Maganinho confunde-se com a história contemporânea do Oporto Golf Club, o mais antigo clube de golfe português (e cujo nascimento, há precisamente 120 anos, coincide com o lançamento da modalidade em Portugal). “Quando comecei no golfe, as pessoas diziam que eu tinha jeito para jogar. Mas a verdade é que eu sempre quis ser profissional de clube. Nunca joguei como amador e nunca joguei como profissional. Comecei como caddie e, na primeira oportunidade, tornei-me golf pro do Oporto”, diz o próprio. Estávamos então em 1983. Hoje, passados quase 27 anos, Maganinho tem mais familiares ainda a trabalhar no Oporto: um irmão é seu assistente e outro trabalha na manutenção do campo, um sobrinho é concessionário do restaurante do clube e outros três trabalham com o irmão no tratamento das relvas, dos bunkers e dos lagos. E, entretanto, o Oporto vai ganhando quase tudo o que há para ganhar.


Quem olha para o seu currículo percebe-o de imediato: não há nada que os jogadores de Espinho, sob o eu comando, não tenham ganho ainda. A mais recente grande vitória foi a de Manuel Alexandre Violas na Copa Andalucia, uma das principais competições espanholas para amadores. Nos últimos três anos, na verdade, o Oporto não deixou quase nada por conquistar – e, sobretudo, a lista de títulos acumulados desde 1983 é verdadeiramente impressionante. Quatro campeões nacionais absolutos, 23 campeões nacionais de jovens e seis vencedores da Taça da Federação Portuguesa de Golfe são alguns dos feitos individuais acumulados, de que resultou o fornecimento de 27 jogadores às diferentes selecções nacionais. Cinco Campeonatos Nacionais de Clubes no escalão absoluto, três Campeonatos Nacionais de Clubes no escalão de sub-18, um Campeonato Nacional de Clubes no escalão de Sub-16, dois Campeonatos Nacionais de Clubes no escalão de sub-14, 13 títulos de vice-campeão nacional de clubes (várias categorias) e 12 títulos de Campeão Regional de Clubes do Norte são alguns dos destaques a nível colectivo. Só em 2008, o Oporto ganhou dez competições, tanto individualmente como por equipas.


“O ano de 2009 também foi muito bom. E o de 2010, segundo parece, vai pelo mesmo caminho. Mas o que eu queria mesmo era voltar a ser campeão nacional de clubes no escalão absoluto, concretamente na competição masculina. Só ganhámos esse título uma vez, em 1999. E, agora que o Oporto faz 120 anos, era a forma perfeita de assinalar essa data”, diz Maganinho, recordando de imediato que a prova se disputa em Setembro, no CG Montado (Palmela). “Devo muito ao Oporto. Toda a minha família lhe deve muito, aliás. E não é apenas com honra que sou o head pro do clube: é também com sentido de responsabilidade e com o permanente desejo de aumentar a sua galeria de troféus”, acrescenta. Depois de Maganinho ter sido eleito pela FPG Treinador do Ano, em 2008, o Oporto organizou um torneio especial dedicado a reconhecer os seus primeiros 25 anos de actividade, provando estarem já definitivamente ultrapassados os tempos em que o golf pro do clube almoçava na cozinha, longe do convívio dos membros.


Segredos do sucesso, segundo o próprio: conhecer os princípios básicos do ensino do golfe, desenvolver um método próprio e ser, depois, capaz de aplicá-lo de diferentes maneiras consoante o jogador em causa, tendo sempre em atenção que a modalidade exige trabalho técnico, físico e psicológico, para além de um cuidado especial na alimentação. “Isto não é só sorte. Nem sequer depende apenas dos talento dos jogadores. Dedico-me muito ao meu trabalho”, costuma sublinhar. Com o sexto ano de escolaridade, Eduardo Maganinho aposta sobretudo numa abordagem empírica dos desafios que se lhe colocam. Desde que, em 1984, fez um estágio na Escócia com Gregor Jimminson, nunca mais deixou de reciclar-se, aproveitando todas as acções de formação e todos os seminários que vão aparecendo – e, na lista dos seus mestres, constam nomes tão incontornáveis como os de John Stark, David Murchie, Dick Farley, Jesus Arruti, Tommy Horton ou mesmo Howard Bennett (pai de Tony Bennett), de quem Maganinho foi adjunto nas selecções nacionais. Todos o ajudaram. Mas a todos ele tentou também, de alguma forma, transcender.


“Não ando à procura de ver o que dizem o David Leadbetter, o Hank Haney ou o Butch Harmon. Penso que, ao longo destes 27 anos, já desenvolvi o meu próprio método. E a verdade é que, se todos os dias me aparecem novos obstáculos, cada um tem de ser gerido à sua própria maneira”, conta. E dá um exemplo: “Ainda recentemente, no Campeonato Nacional de Clubes de sub-18, estava a orientar a volta de treino da equipa e notei que um dos meus jogadores, precisamente aquele que tem uma psicologia mais difícil e que desde o início joga mais negativamente, só fazia duplos, triplos e quádruplos bogeys. Ora, eu sabia que precisava dele para sermos campeões. E, então, decidi fazer uma aposta entre ele e outro jogador da equipa: quem fizesse melhor score tinha um prémio surpresa. Resultado: ele falhou no terceiro dia, já sujeito a enorme pressão, mas jogou mesmo muito bem nos dois primeiros. E isso foi o suficiente para sermos campeões.”


A psicologia é, aliás, um dos aspectos a que Eduardo Maganinho dedica mais atenção. No que diz respeito aos adultos e, sobretudo, no que diz respeito aos jovens, para quem as namoradas (que aparecem cada vez mais cedo), a Internet, os jogos de vídeo e (nos tempos de faculdade) as noitadas constituem apelos às vezes muito mais atraentes do que o dispêndio de fins-de-semana inteiros no driving range. “Por exemplo, no Campeonato Nacional Absoluto, em Tróia, tive um miúdo de 12 anos que simplesmente não quis jogar. Foi connosco, experimentou o campo e desistiu. Os pais tinham casa na zona, a namorada estava lá à espera dele, a escola tinha uma visita de estudo ali pela na região – e ele simplesmente preferiu deixar o torneio, dizendo que não gostava do campo. Tentei demovê-lo, mas entretanto parei. Às vezes, mais vale não forçar. Apenas lhe pedi que me prometesse que não deixava de jogar golfe, coisa que ele fez”, conta. “Se os adultos têm as palavras ‘não consigo’ na ponta da língua, com os adolescentes é pior ainda. E é preciso ter paciência com eles.”


Com cerca de 90 alunos de todas as idades, de resto escalonados segundo uma lógica em que se começa pelo assistant pro (precisamente o seu irmão, José) e se chega finalmente ao ‘professor Eduardo’, em jeito de promoção, Maganinho sabe, na verdade, que o golfe não é tudo na vida. E diz mesmo que, se há um factor mais contraproducente do que os outros no que diz respeito à evolução de um jovem jogador, esse factor é a insistência dos pais para que ele venha a tornar-se num campeão da modalidade. “Já tive um aluno que foi campeão nacional de sub-18 e depois deixou de jogar. Assim que chegou à universidade, simplesmente parou. Na verdade, não gostava de jogar golfe. E isso, para quem tinha passado uma série de anos de taco na mão, é a coisa mais triste que há”, conta. “Aliás, o meu conselho é sempre: até uma certa idade, deixem os miúdos praticar várias modalidades Desde que seja desporto, deixem-nos experimentar. Eles hão-de acabar por decidir sozinhos o que querem. É o que faço com os meus próprios filhos. O rapaz joga, a rapariga não. Tenho pena, mas paciência.”



Para além de Manuel Alexandre Violas, a sua grande aposta é agora, em termos individuais, Tiago Rodrigues, jovem que, aos 18 anos (e embora tenha entrado entretanto na faculdade), parece determinado a tornar-se profissional de competição. “Está a trabalhar muito bem. Tem muito potencial e, para além de estar a treinar a área técnica comigo e com os seleccionadores nacionais, tem um personal trainer, um nutricionista e um psicólogo, concretamente o professor Jorge Silvério. Até o consumo de carne já reduziu, coisa que sei que lhe custou bastante. Aposto muito nele”, diz. Mas o facto é que Maganinho acredita que outros jovens portugueses poderão chegar aos circuitos internacionais, nomeadamente José Maria Jóia, Gonçalo Pinto e, sobretudo, Pedro Figueiredo, agora a estudar (e a jogar) nos Estados Unidos. “Mais do que isso: há aí um grupo de miúdos entre os 13 e os 15 anos, no Oporto e em vários outros clubes (nomeadamente no CG Vilamoura, onde o Joaquim Sequeira também tem feito um trabalho magnífico), que podem levar esta modalidade, em Portugal, verdadeiramente a outro nível. E talvez fosse interessante se a Federação, que tem trabalhado muito bem as competições, se empenhasse agora em criar mais estágios.”


 



Os números de Maganinho


 


Eduardo Maganinho tem 48 anos e é profissional do Oporto Golf Club há 27, tendo acumulado durante nove anos essas funções com as de seleccionador nacional adjunto. Só entre 2008 e 2009, os seus jogadores conquistaram 13 títulos de campeão nacional, tanto em termos individuais como colectivos, para além de 14 vitórias nos Circuito Tranquilidade e no Ranking BPI (incluindo duas no ranking anual). Isto sem falar, claro, nos incontáveis segundos e terceiros lugares – em todas as categorias, colectivas e individuais, masculinas e femininas.


ALUNOS CAMPEÕES NACIONAIS INDIVIDUAIS: 27


ALUNOS QUE VENCERAM A TAÇA DA FPG: 6


ALUNOS FORNECIDOS ÀS SELECÇÕES NACIONAIS: 27


ALUNOS PRESENTES NO CAMPEONATO DO MUNDO: 3


ALUNOS PRESENTES EM TORNEIOS DO EUROPEAN TOUR: 3


ALUNOS COM VITÓRIAS INTERNACIONAIS: 1


CAMPEONATOS NACIONAIS COLECTIVOS: 12


CAMPEONATOS REGIONAIS COLECTIVOS: 12






PERFIL. J (O Jogo), 2 de Maio de 2010



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Joel Neto


Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974, e vive entre o coração de Lisboa e a freguesia rural da Terra Chã, na ilha Terceira. Publicou, entre outros, “O Terceiro Servo” (romance, 2000), “O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (contos, 2002) e “Banda Sonora Para Um Regresso a Casa” (crónicas, 2011). Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil, para além de Portugal. Jornalista de origem, trabalhou na imprensa, na televisão e na rádio, como repórter, editor, autor de conteúdos e apresentador. Hoje, dedica-se sobretudo à crónica e ao comentário, que desenvolve a par da escrita de ficção. O seu novo romance, “Os Sítios Sem Resposta”, sai em Abril de 2012, com chancela da Porto Editora. (saber mais)
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