Domingo, 22 de Agosto de 2010
publicado por JN em 22/8/10

É verdade. Daí a realização em Vilamoura, na próxima semana, de um evento único no mundo, a disputar à margem do incontornável torneio PokerStars EPT. Para ganhar o Fairways And Felts Challenge, aberto tanto a amadores como a profissionais, um participante terá de brilhar primeiro em 18 buracos de golfe e depois numa noitada de póquer. Em jogo estarão entre 50 e 75 mil euros. Mas a organização espera repetir a iniciativa – e, para futuras edições, já prevê prize pools bem superiores.

 

“Ambos os jogos exigem concentração intensa, auto-disciplina elevada, condição física forte e conhecimento profundo tanto da técnica como da de estratégia”, diz Kirsty Thompson, Business Development Manager do European Poker Tour. “Para além disso, tanto os jogadores de golfe como os jogadores de póquer apreciam a emoção da vitória (incluindo com uma pancada bem calculada ou um bluff na altura certa) e sofrem a agonia da derrota (incluindo com uma bola que morde o buraco ou com a única carta que te podia eliminar acabar por ser a última a sair). No fundo, os sentimentos competitivos são comuns.”

Resultado do raciocínio: o Fairways And Felts Challenge, um evento para já único no mundo e que se realiza na próxima semana (de 1 a 2 de Setembro), nas entrelinhas do PokerStars EPT Vilamoura, já reconhecido como o torneio de póquer com maior prize money existente em Portugal. Destinada em exclusivo a praticantes de ambas as modalidades, a competição deverá reunir uma prize pool algures entre os 50 e os 75 mil euros. Mas o PokerStars espera repetir o evento no futuro – e, para próximas edições, já prevê prémios monetários bem superiores.

“O European Poker Tour procura proporcionar aos seus jogadores uma oferta cada vez melhor e mais diversificada. E esta foi uma ideia que achámos interessante porque, para além de muitos jogadores de póquer jogarem golfe também, podemos envolver com ela a comunidade de golfe local”, explica Kirsty Thompson. “Temos grandes expectativas quanto a esta experiência. Esperamos que seja positiva e que, aliás, obtenha bastante atenção dos meios de comunicação social, permitindo também a Vilamoura evidenciar aquilo que a torna conhecida como um dos principais destinos de golfe da Europa.”

O evento, com um buy-in de € 1100 e aberto tanto a profissionais como a amadores, começa dia 1, com o segmento de golfe, marcado para o campo do Oceânico Pinhal. Através do mesmo programa informático habitualmente utilizado para distribuir os jogadores de póquer pelas mesas de jogo, a organização dividirá os participantes por equipas de quatro, que depois jogarão uma ronda de golfe (18 buracos) em formato Texas Scramble, com partida em shotgun e sem direito a handicaps (em gross, pois). A jornada encerrará com um jantar no Casino Solverde, com a distribuição dos prémios colectivos e individuais, incluindo scores e skills (Drive Mais Longo, Nearest To The Pin, Hole In One e afins).

No dia seguinte, falar-se-á apenas de póquer, mas o número de fichas com que cada jogador começará a jornada será definido em função dos seus resultados da véspera, incluindo score colectivo e skills individuais. A partir de então, as regras serão as clássicas do No Limit Texas Hold’em Freezout, acabando o torneio apenas quando restar um só jogador em jogo (e, portanto, na posse de todas as fichas). O prize money será depois dividido entre os primeiros da classificação, de acordo com a tabela de pagamentos habitualmente utilizada no Casino Solverde, anfitrião único desse segundo dia do evento.

Nunca, garante o European Poker Tour, alguém levou a cabo uma iniciativa do género. E JP Kelly, uma das novas estrelas do póquer europeu e mundial, foi logo um dos primeiros a inscrever-se, decidindo participar ao mesmo tempo no PokerStars EPT Vilamoura (onde defrontará, por exemplo, o português João “Jomané” Nunes) e no Fairways And Felts Challenge. O facto de não haver lugar a handicaps, garantindo-se com isso a competitividade do segmento de golfe, foi uma das armas para conquistar a sua atenção. Outra foi a qualidade dos campos de golfe de Vilamoura (ver caixa), nomeadamente o Oceânico Pinhal, que a organização preferiu ao Old Course em resultado de uma remodelação em curso nas últimas semanas, a qual o deixará, no final do mês, rigorosamente perfeito.

“Existe cada vez mais interesse no golfe a nível mundial – e os jogadores de póquer não são excepção. Estamos convictos de que esta experiência será muito comentada nos fóruns de discussão online, bem como entre os próprios jogadores”, prevê Kirsty Thompson. “De resto, orgulhamo-nos de patrocinar vários torneios de póquer por todo o mundo, incluindo Europa, Ásia e América Latina. Seleccionamos as localizações dos nossos torneios com base em vários factores – e um dos mais importantes são as possibilidades de essa região servir como ‘destino turístico memorável’. Embora seja verdade que muitos dos nossos jogadores são profissionais de póquer, aliás, também há muitos homens e mulheres ‘normais’ que participam nos nossos torneios durante as suas férias.”

A organização não prevê qualquer transmissão televisiva para o evento, que é realizado, para já, a título experimental. Mas espera repetir a experiência em simultâneo com outros torneios do European Poker Tour – e admite mesmo que o formato da competição possa ser corrigido, até aproveitando os inputs deixados pelos jogadores ao longo dos dois dias da competição da próxima semana. O PokerStars EPT Vilamoura, evento principal, é reconhecido como o torneio de póquer português com maior prize money. Na edição do ano passado, estiveram em jogo mais de um milhão e meio de euros. O empresário local António Matias foi o vencedor, encaixando um prémio superior a 400 mil euros.

 

A ESTRELA: JP Kelly, profissional “por acaso”

John Paul Kelly nasceu em Aylesbury, em Inglaterra, e começou a jogar póquer para se divertir. Fê-lo durante anos, na companhia de amigos e familiares – e nunca, até assistir pela primeira vez ao clássico programa de televisão “Late Night Poker”, da cadeia britânica Channel 4, o considerou mais do que um hobby. Até que se cruzou com esse universo de ousadia e vertigem que então começava a esboçar-se – e decidiu arriscar. Desde então, acumulou uma série de vitórias em torneios ao vivo – e, se os primeiros prémios monetários foram relativamente modestos, rapidamente os montantes começaram a crescer. Só durante o Verão de 2009, JP Kelly ganhou mais de 420 mil dólares em torneios da World Series Of Poker (WSOP). Por esta altura, e apesar dos seus escassos 24 anos, acumula já prémios monetários num valor total bem superior a um milhão de euros. E, embora tenha começado a jogar golfe há relativamente pouco tempo, não vem a Portugal apenas para passear. “O golfe é o antídoto perfeito para o stress que o póquer provoca” , diz. “Para além disso, Vilamoura tem alguns dos melhores campos de golfe do mundo, pelo que estou muito excitado com a perspectiva de ir lá jogar. Inclusive, estou a pensar ir mais cedo, na companhia de alguns amigos, para algumas rondas de treino”. Kelly vai participar tanto no PokerStars ETP Vilamoura como no Fairways And Felts Challenge.

 

A CHANCELA: PokerStars, simplesmente o maior

O PokerStars.com, principal organizador do Fairways And Felts Challenge, é o maior site de poker online, com mais de 36 milhões de membros em todo o mundo. Ao todo, tem já mais de 46 mil milhões de mãos jogadas, para um total de cerca de 280 milhões de torneios realizados. A empresa opera em todo o planeta com uma licença da Ilha de Man, mas entretanto já tem sucursais em Itália e em França, em ambos os casos com o beneplácito dos governos locais. Detentor dos recordes mundiais para o Maior Torneio de Poker Online e o Maior Número de Jogadores numa Sala de Poker Online, ambos reconhecidos pelo Livro Guiness dos Recordes, o PokerStars organiza, entre outros, o World Championship of Online Poker, o Spring Championship of Online Poker, o World Blogger Championship of Online Poker e a World Cup of Poker. Paralelamente, é patrocinador oficial dos circuitos European Poker Tour, North American Poker Tour, PokerStars Caribbean Adventure, Latin American Poker Tour e Asia Pacific Poker Tour.

FEATURE. J (O Jogo), 22 de Agosto de 2010

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Domingo, 1 de Agosto de 2010
publicado por JN em 1/8/10

Aos 30 anos e com quase 35 milhões de euros em prémios, Sergio García  dá sinais de cansaço. Durante o British Open de há duas semanas, falou mesmo em abandonar o golfe. Entretanto, já reconsiderou. Mas o facto é que não consegue um bom resultado desde o Accenture Match Play Championship de Fevereiro, que não mostra alegria em campo desde a vitória no The Players Championship de 2008 e que, aliás, parece vergado ao peso das expectativas desde a derrota no playoff do British Open de 2007. Estará “El Niño” a transformar-se num cliché?

 

“Sou jogador para andar à procura de resultados de 61, 62, 63. Não ando aqui para fazer scores de 71 consecutivos. Sinceramente, não sei se quero abandonar o golfe, mas sei que é assim que me sinto neste momento. Sempre fui capaz de dominar um campo de golfe. Se agora já não o sou, talvez não valha a pena o sofrimento de continuar a tentar.” As palavras foram proferidas há duas semanas, ao final do dia de sexta-feira, logo após a concretização da segunda ronda do British Open, em Saint Andrews. Sergio García haveria de reconsiderar no dia seguinte, depois de uma série de conversas com amigos e familiares e de um resultado de 70 pancadas que o lançaria para o 14º lugar final no terceiro major championship do ano. Para muitos, porém, o problema mantém-se: Sergio simplesmente esqueceu-se do privilégio que é fazer de um jogo de tacos e de bolas um modo de vida – e, ainda por cima, ser milionário com isso.

Já lhe chamaram “o melhor golfista do mundo sem majors”. Mas a verdade é que se trata de um título efémero: antes dele, chamavam o mesmo a Colin Montgomerie – e, por esta altura, quem ostenta o título é Lee Westwood. Facto: Sergio García nunca ganhou um “big one”. Facto: Sergio Garcia parece definitivamente vergado ao peso das expectativas desde que, em Julho de 2007, falhou, no buraco 18 de Carnoustie, um curto putt para vencer o British Open. Facto: Sergio Garcia não demonstra alegria em campo desde que, em Maio de 2008, ganhou o The Players Championship em TPC Sawgrass. Facto: Sergio Garcia não consegue um resultado verdadeiramente bom desde a chegada às meias-finais do Accenture Match Play Championship, em Fevereiro passado. E a questão é que o fim do namoro com Morgan-Leigh Norman, a filha de Greg Norman com quem andou a fazer planos para casar até que, um ano depois, ela preferiu outro caminho, já não pode explicar tudo.

Solteirão e com repetidos comportamentos de playboy, incluindo uma predilecção especial pelos automóveis exibicionistas (nomeadamente um Ferrari 360 Modena e um Jaguar XJR) e relações com várias super-estrelas do desporto e do espectáculo (nomeadamente a tenista Martina Hingis e a actriz Jessica Alba), Sergio García já tem, aos 30 anos, uma longa experiência nos domínios das desventuras amorosas. Mais: apesar da assumida paixão por Morgan-Leigh, nunca abandonou os hábitos mundanos que sempre haviam servido de base à sua existência, entre os quais os longos churrascos em Borriol, onde nasceu e oficialmente ainda vive, as futeboladas com os amigos, as noitadas pós-adolescentes de PlayStation e mesmo o acamaradamento com outros desportistas bons vivants, como Camilo Villegas e Rafael Nadal. E, na verdade, pode estar simplesmente cansado – tão cansado como sugere quando diz: “Tenho sentido cada vez mais assim. Sempre que parece que estou a chegar a algum sítio, alguma coisa acontece, um erro qualquer que me trava.” Sam Torrance, seu antigo capitão na selecção europeia da Ryder Cup, é claro: “Ele não está aqui. Na sua cabeça, preferia estar numa praia algures.”

Nascido a  de Janeiro de 1980, a curta distância da costa  Leste espanhola e a pouco mais de uma hora a Norte de Valência, Sergio García é o segundo de três filhos de uma família fundada no golfe. A mãe, Consuelo, dirigia a pro-shop do Mediterraneo Golf Club. O pai, Victor Sr., um antigo caddie que chegara a cultivar o sonho de ganhar um lugar no European Tour, era o golf pro local. Tanto o irmão mais velho como a irmã mais nova jogavam, atingindo mesmo algum sucesso enquanto amadores. Entretanto, a maior parte do talento estava concentrado nele. Iniciado ao golfe com apenas dois anos, Sergio jogou pela primeira vez na casa das 70 pancadas aos dez anos, conquistando dois anos depois os títulos de campeão absoluto do seu clube e de campeão nacional espanhol de sub-12. Durante a adolescência, cumpriu uma série de sonhos: jogou ao lado de Severiano Ballesteros, consumou o seu primeiro triunfo internacional (o Topolino World Junior Championship de 1994) e colocou-se na rota dos media ávidos de encontrar a próxima-grande-coisa do golfe mundial, numa altura em que Nick Faldo e Greg Norman começavam a declinar e Tiger Woods era ainda apenas uma promessa.

O seu primeiro cut no European Tour foi obtido aos 15 anos (no Turespaña Open Mediterrânea de 1995), o que constituiu então um recorde. Pouco depois, Sergio venceu o European Amateur, estabelecendo mais um recorde de juventude. Em 1999, conquistou a Silver Cup para o melhor amador no The Masters Tournament. Tornou-se de imediato profissional – e, quando apareceu a disputar a vitória no PGA Championship desse mesmo ano, num duelo final com Tiger Woods, já não era um desconhecido para ninguém, percorrendo o mundo com aquele que é talvez, ainda hoje, o seu mais famoso shot: um fade rasteiro batido contra uma árvore, incluindo uma correria adolescente fairway fora, a conferir o resultado daquela pequena loucura. Desde então, Sergio venceu 19 vezes como profissional, primeiro com o “estranho” swing que o pai lhe ensinara e depois com um novo swing construído à medida dos grandes instrutores americanos. O público rendeu-se-lhe sempre, os adversários elogiaram-no até não ser mais possível, os media não deixaram nunca de considerá-lo como candidato à vitória em qualquer torneio em que participasse. Até que, em 2007, aquele putt no 18 de Carnoustie, beijando o lábio do buraco e acabando por desistir de entrar, deu início ao seu declínio – um declínio que nem a vitória no The Players, nem os dois triunfos entretanto conquistados no European Tour conseguem disfarçar.

E agora, que se encontra mais ou menos a meio da tabela entre os jogadores potencialmente qualificados para a final da Race to Dubai (27º de uma lista em que se qualificam 60) e perto do limite do cut para o primeiro playoff da FedEx Cup (94º de uma lista em que se qualificam 125), a maior responsabilidade parece recair sobre Colin Montgomerie, o homem a quem roubou o tal título de “melhor golfista do mundo sem majors”. Por esta altura, e apesar da sua condição de “histórico” de Ryder Cup (onde detém um impressionante registo de 13 vitórias, 3 empates e 3 derrotas), Sergio está longe de uma qualificação automática para a 39ª edição da prova, marcada para Outubro no Celtic Manor Resort, no País de Gales. Uma convocatória no papel de wildcard parece ser agora a sua única esperança. E seguramente Montgomerie não vai querer ouvir da sua boca, na altura da “conversinha” entre os dois, frases como: “Não sei se vou deixar o golfe aos 30 anos, mas a verdade é que preciso de melhorar a minha confiança. Se não conseguir mudar a situação, terei de encontrar outras coisas a que me dedicar.”

 

Sergio García

NASCIMENTO: 9 de Janeiro de 1980, em Borriol, Castellón, Espanha

ALCUNHA: “El Niño”

FÍSICO: 1,78 m; 73 kg

PROFISSIONAL DESDE: 1999 (hcp +5)

CIRCUITOS: European Tour (desde 1999) e PGA Tour (desde 1999)

VITÓRIAS COMO PROFISSIONAL: 19 (incluindo 8 no European Tour e 7 no PGA Tour)

RESULTADOS EM MAJORS: 48 participações, 15 top 10 (incluindo dois 2º lugares no British Open, um 2º lugar no PGA Championship, um 3º lugar no US Open e um 4º lugar no The Masters).

DESEMPENHO NA RYDER CUP: 5 participações, 3 vitórias colectivas (registo pessoal: 14 vitórias, 3 empates e 3 derrotas)

GALADÕES E HOMENAGENS: Sir Henry Cotton Rookie of the Year 1999; Vardon Trophy 2008; Byron Nelson Award 2008

FEATURE. J (O Jogo), 1 de Agosto de 2010

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Domingo, 4 de Julho de 2010
publicado por JN em 4/7/10



Não haverá grandes celebrações em torno do 120º aniversário do nascimento do golfe em Portugal. Mas a efeméride aí está – e nas suas entrelinhas é possível encontrar dez datas importantes que contam, também elas, a história da modalidade no nosso país. Uma história cheia de vitalidade, a que falta agora a capacidade para conquistar um número de praticantes vagamente correspondente ao número de campos (e mesmo de clubes) existentes


 


Passaram-se 120 anos entre o momento em que a comunidade inglesa do Porto, a mesma que nos trouxe o ténis e o râguebi, introduziu o golfe em Portugal e aquele em que foi finalmente inaugurado o primeiro campo de golfe público no nosso país (concretamente a Academia de Golfe Municipal de Cantanhede). Na hora do balanço, “o saldo é necessariamente positivo”, como diz Pedro Vicente, agora em transição entre os cargos de secretário-geral da Federação Portuguesa de Golfe e assessor da Presidência da mesma instituição.



A data será celebrada com parcimónia, à medida de um tempo de crise, constando sobretudo na realização, em Setembro, de um grande torneio no Oporto Golf Club, com a participação de uma série de convidados estrangeiros. Entretanto, porém, é possível identificar, ao longo dessa história metacentenária, as dez datas que mais contribuíram para o desenvolvimento da modalidade em Portugal – e que, aliás, nos trouxeram até aos números que hoje reflectem a realidade do golfe nacional. Próximo desafio: conquistar mais portugueses para a prática daquele a que tantos já chamaram “o melhor desporto do mundo”.


 


1890


FUNDAÇÃO DO OPORTO


Membro da comunidade inglesa do Porto, grande parte dela dedicada à exportação de vinho do Porto, Charles Neville Skeffington funda o Oporto Golf Club, então ainda com o nome Niblicks Golf Club. O campo, de nove buracos, é instalado na freguesia de Silvade, a cerca de 800 metros da antiga praça de toiros de Espinho. Tinha 2027 de distância máxima e era atravessado, no fairway do buraco 7, pela linha férrea Lisboa-Porto. Os jogadores vinham do Porto, atravessavam o Douro de barco para Gaia, apanhavam o comboio para Sul e depois ainda iam a pé para o campo. Conta-se que, ao saírem do comboio, já vinham jogando pelo caminho – e que, no regresso, saíam a jogar também, apostando em quem chegava com menos pancadas ao Café Chinez. Um ano depois é criada a Taça Skeffington, o mais antigo torneio do mundo em disputa ininterrupta.


 


1907


BENEPLÁCITO RÉGIO


D. Manuel II passa por Espinho e pára para jogar umas quantas partidas. É a primeira vez que a corte dá atenção pública à modalidade, oferecendo-lhe assim o seu beneplácito. Por esta altura já há mais dois campos no Norte, um no Porto (cinco buracos) e um em Matosinhos (nove buracos). O Niblicks já havia ganho o actual nome, Oporto Golf Club – e o campo em que jogava também já era o actual, embora com apenas nove buracos (par 36). A modalidade alastrara-se também, entretanto, a Lisboa, onde o Lisbon Sports Club, embora com existência para já informal, ia percorrendo a região (Campo Pequeno, Algés, Carcavelos…) à procura do local ideal para jogar. O clube apenas será oficialmente fundado em 1921, só se instalando na Quinta da Carregueira, em Belas, em 1964. E ainda seria preciso esperar até 1992 para que o actual traçado de 18 buracos estivesse em funcionamento.


 


1936


BENEPLÁCITO REPUBLICANO


Já com a prática do golfe alargada ao Estoril (embora o Clube do Golf do Estoril só viesse a ser fundado em 1945) e com um segundo clube a funcionar em Espinho (o Miramar), a República dá pela primeira vez atenção pública à modalidade em 1936, oferecendo-lhe, também ela, a sua ratificação. É, aliás, o próprio Óscar Carmona, Presidente da República, quem procede à inauguração do campo de nove buracos do Grande Hotel de Vidago, região onde a comunidade inglesa do Porto gosta de banhar-se nas termas. Serão novamente os ingleses, de resto, a promover ainda o alargamento do golfe ao arquipélago da Madeira, onde um ano depois é inaugurado o Santo da Serra Favellas Golf Club, com um percurso também de nove buracos. Neste caso, a primeira pancada do campo pertence a J.H. Taylor, cinco vezes campeão do British Open.


 


1939


PORTUGUESES ENTRAM EM ACÇÃO


O golfe já tem, por esta altura, quase 50 anos de existência em Portugal. Mas só então se verifica a inauguração de um campo e de um clube sem a influência directa de qualquer comunidade inglesa: o Campo de Golfe Terra Nostra, situado na freguesia das Furnas, na ilha de São Miguel, e criado por iniciativa de Vasco Bensaúde, referência maior daquele que ainda hoje é o maior grupo económico dos Açores. Ainda assim, e embora Portugal dispusesse por esta altura de sete campos, a vitalidade do jogo está mais ou menos circunscrita ao Porto e a Lisboa, que entretanto começam a disputar entre si a Taça Kendall. É precisamente a partir dessa taça que vem a nascer o actual Campeonato Nacional Individual Absoluto.


 


1949


CRIAÇÃO DE UMA FEDERAÇÃO


Ao fim de 60 anos, o golfe ganha finalmente uma associação oficial. A Federação Portuguesa de Golfe é criada a 20 de Outubro, por iniciativa do Oporto, do Lisbon, do Miramar e do Estoril. A sede é instalada no edifício do Clube de Golf do Estoril e o primeiro presidente é Ricardo Espírito Santo Silva. António Mascarenhas, Nuno Brito e Cunha, Visconde de Pereira Machado (que chegaria a ser ainda Presidente da Associação Europeia de Golfe), Fernando Cabral, Tito Lagos e José Roquette viriam a constituir alguns dos seus sucessores. Entretanto, é lançado o Open de Portugal, a primeira grande competição portuguesa para profissionais, que a partir de 1953 é realizada anualmente no Estoril.


 


1966


O NASCIMENTO DO ALGARVE


Sir Henry Cotton, tricampeão do British Open, lança o primeiro campo de golfe do Algarve: o Penina, de imediato considerado um dos melhores traçados da Europa continental. O próprio Henry Cotton desenhará, dois escassos anos mais tarde, o primeiro campo de Vale de Lobo. Em 1969 será ainda lançado o primeiro traçado de Vilamoura, hoje chamado Old Course. Os turistas ingleses começam a afluir com cada vez mais assiduidade à região, delirantes com a possibilidade de jogarem ao longo dos 12 meses do ano. A imprensa britânica não se cansa de elogiar as condições para a prática da modalidade em Portugal. O Algarve Open, realizado anualmente entre 1969 e 1972, começa a ganhar mais projecção internacional até do que o Open de Portugal. A região virá a tornar-se, ao longo das décadas seguintes, num dos mais apreciados destinos turísticos de golfe do mundo.


 


1973


AUTONOMIZAÇÃO DA FPG


Depois de mais de 20 anos a funcionar no edifício do Estoril Golf Clube, a Federação Portuguesa de Golfe dá o seu grito do Ipiranga e instala-se numa infra-estrutura cedida por uma empresa comercial, autonomizando-se formalmente dos clubes que a fundaram. Cinco anos depois, e ainda na ressaca daquele que foi um dos períodos mais duros da existência da modalidade em Portugal (o PREC, incluindo contestações classistas de diversa ordem e, até, a ocupação dos terrenos de vários campos), a FPG seria reconhecida com o estatuto de Utilidade Pública. Os dois momentos viriam a verificar-se fundamentais para a disseminação da prática da modalidade e para a criação de uma estrutura técnica profissional na Federação.


 


1976


ORGANIZAÇÃO DO CAMPEONATO DO MUNDO


Portugal recebe pela primeira vez o Campeonato do Mundo por equipas, naquele que é então o primeiro grande teste à sua capacidade organizativa nos domínios do golfe. Entre as equipas participantes, está Israel – e as preocupações de segurança são tais, tendo em conta o Massacre de Munique ocorrido quatro anos antes, que os jogadores israelitas jogam escoltados por soldados armados com metralhadoras. Por esta altura, o Open de Portugal já faz parte do calendário do European Tour, criado entre 1971 e 1972. Mais tarde virão a surgir o Open da Madeira e o Portugal Masters, este hoje uma das provas mais importantes do calendário Europeu. Em 2005, Portugal receberá a Taça do Mundo, então a contar para os World Golf Championships. E, não muito tempo depois disso, lançará ainda a candidatura à recepção da Ryder Cup 2018.


 


1981



AS MUDANÇAS DE JOSÉ ROQUETTE


Quinze anos antes de candidatar-se à presidência do Sporting, José Roquette chega à direcção da Federação Portuguesa de Golfe – e, então, muda quase tudo. Beneficiando da recente autonomização da estrutura, assim como o seu reconhecimento com o estatuto de Utilidade Pública, harmoniza as categorias de praticantes amadores pelas normas internacionais e cria uma estrutura profissionalizada de apoio à modalidade nos escalões juvenis. Rapidamente são criadas as primeiras escolas de golfe nacionais, concretamente em Espinho e no Estoril. E é também em resultado dessa posta,  que virá a ser fundado, em 1997, o Circuito Drive, envolvendo mais de 900 praticantes, distribuídos por 24 centros de aprendizagem. É ele a base da actual vitalidade do jogo entre os mais jovens.


 


2004


LANÇAMENTO DO DATAGOLF


O número de campos cresce a um ritmo avassalador. Embora as prestações dos profissionais portugueses não consiga nunca sair da mediania, as grandes competições realizadas em Portugal vão ganhando crescente prestígio internacional. As selecções nacionais juvenis começam a conseguir cada vez mais brilharetes no estrangeiro. E, perante o crescimento a bom ritmo do número de golfistas amadores nacionais – e o crescimento frenético do número de clubes – a FPG lança o Datagolf, um programa informático da autoria de Luís Moura Guedes, que vem permitir uma gestão harmonizada dos handicaps. O número de competições amadoras dispara E o Datagolf é, inclusive, exportado para outros países. A Federação começa, entretanto, a trabalhar com mais intensidade no projecto para a disseminação de uma rede de campos públicos e de baixo custo, de que a Academia Municipal de Golfe de Cantanhede vem a ser o primeiro exemplo concretizado.



FEATURE. J (O Jogo), 4 de Julho de 2010

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Joel Neto


Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974, e vive entre o coração de Lisboa e a freguesia rural da Terra Chã, na ilha Terceira. Publicou, entre outros, “O Terceiro Servo” (romance, 2000), “O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (contos, 2002) e “Banda Sonora Para Um Regresso a Casa” (crónicas, 2011). Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil, para além de Portugal. Jornalista de origem, trabalhou na imprensa, na televisão e na rádio, como repórter, editor, autor de conteúdos e apresentador. Hoje, dedica-se sobretudo à crónica e ao comentário, que desenvolve a par da escrita de ficção. O seu novo romance, “Os Sítios Sem Resposta”, sai em Abril de 2012, com chancela da Porto Editora. (saber mais)
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