O divórcio entre a NBC e Conan O’Brien, o histriónico apresentador de The Tonight Show, é o mais perfeito laboratório para perceber o que é o horário nobre e o que são as massas que o alimentam. Assumido seguidor de Johnny Carson ou Bob Hope, mas muito mais devedor dos estilos de Mel Brooks ou mesmo Woody Allen, Conan O’Brien conduziu durante 16 anos o The Late Night Show, programa das madrugadas da NBC. Os últimos cinco, passou-os já com o estatuto de sucessor natural de Jay Leno no The Tonight Show, o programa de horário nobre – e, efectivamente, quando foi anunciada a passagem de Leno a um formato menos assoberbante, no ano passado, foi ele o promovido.
Pois a experiência durou apenas sete meses – e, agora que acabou, convém perceber porquê. Preocupados com a queda de Jay Leno nas audiências, os responsáveis da NBC chegaram à conclusão de que o que o seu horário nobre precisava era de carisma. Leno era demasiado institucional, a espaços quase cinzento – e O’Brien, com a sua popa “Le Coq Sportif” e as suas piadas arriscadas, teria provavelmente, nestes tempos de globalidade exaltada e insaciável, outra acuidade na conquista de novos públicos. Resultado: foi um flop, as desavenças entre o apresentador e a estação não tardaram – e, entretanto, Conan O’Brien vai embora e Jay Leno está de regresso.
A razão é simples: o horário nobre, nos EUA como em todo o mundo (incluindo em Portugal, em que o êxito de Gato Fedorento é uma excepção), pode ter uma certa declinação, uma tanta idiossincrasia, mas não pode nunca deixar de ser conservador. Horário nobre é mainstream e mais nada – e disto não havemos de sair tão depressa.
CRÓNICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 26 de Janeiro de 2010