Anunciadas todas as estreias dos quatro canais em sinal aberto, o mínimo que se pode dizer é que a rentrée é decepcionante. No limite, e entre o que ainda falta estrear, as duas propostas mais interessantes são uma série sobre a vida animal dedicada às espécies selvagens existentes em Portugal (RTP1) e um talkshow de cariz filantrópico com apresentação a cargo de um cidadão tetraplégico (idem).
Quanto ao resto, tem sido mais do mesmo: muitos concursos na RTP, muitas telenovelas na TVI, muitas séries na RTP 2 e a já habitual dispersão de géneros na SIC, ainda à procura de um linha que lhe devolva as audiências sem a diluir no caldeirão das “privadas”. Feitas as contas, e para encontrar uma verdadeira estrela na nova temporada, é preciso regressar mais uma vez a Gato Fedorento-Esmiúça os Sufrágios (SIC), que como se sabe dura apenas mais três semanas.
O balanço é sombrio – e, se o é quanto aos canais portugueses, não deixa de sê-lo também quanto aos canais estrangeiros, tanto àqueles que recebemos via cabo e IPTV, como às grandes referências americanas. Noutras recessões, a TV contornou a quebra publicitária com mais imaginação, atacando a crise pelo lado da receita. Desta vez, atacou-a pelo lado da despesa, que é sempre a solução menos entusiasmante.
Parece normal: a televisão cresceu muito nos últimos dez anos – alguma vez haveria de contrair-se. Mas alguma coisa vai ter de sair daqui. E depressa.
CRÍTICA DE TV ("Crónica TV"). Diário de Notícias, 5 de Outubro de 2009