Sexta-feira, 24 de Dezembro de 2010
publicado por JN em 24/12/10

Qualquer decisão que retire espaço a Costinha na gestão do plantel profissional do Sporting é uma boa decisão. Desde que chegou a Alvalade, Costinha não fez outra coisa senão pavonear fatos de mau gosto, procurar novos horizontes para a sua autoridade e, basicamente, ajudar a destruir o pouco que ainda havia (se havia) de qualidade futebolística. Nesse sentido, a contratação de José Couceiro para o cargo de director-geral do clube é, em princípio, uma boa notícia.


E, porém, é preciso confirmar duas coisas. A primeira é se a contratação de José Couceiro efectivamente retirará espaço a Costinha na gestão do plantel ou se, pelo contrário, remeterá o director-geral a uma função eminentemente burocrática e de “representação”, oferendo ao director de Futebol mais liberdade (e mais inimputabilidade) ainda. A segunda é se, contratando um director-geral (ainda por cima com o perfil de Couceiro), fará sentido continuar a ter um director de Futebol (ainda por cima com o perfil de Costinha) ou se, pelo contrário, a coexistência das duas figuras não é apenas uma forma de tentar emendar um pouco a mão, mas no essencial manter a face.


Seja como for, estou convencido de que José Couceiro se meteu naquilo a que se chama uma bela encrenca. Claramente, o actual status quo sportinguista não durará muito. O descontentamento está demasiado generalizado, os resultados são demasiado maus e qualquer operação de cosmética (que é o que, para José Eduardo Bettencourt, a contratação de Couceiro significa) é demasiado óbvia. Mais cedo ou mais tarde, e se de facto ainda restarem sportinguistas (se de facto ainda restar sportinguismo, isto é), esta estrutura dará lugar a outra.


Ora, se José Couceiro não o percebeu ainda, não está cá a fazer nada. Por outro lado, se o percebeu e decidiu investir no futuro, no do clube ou no seu próprio, posicionando-se para vir a garantir uma situação melhor (para o clube ou para si próprio, ou mesmo para os dois ao mesmo tempo), tem pela frente uma missão verdadeiramente ciclópica. À sua volta, reina a incompetência, o autismo, a prepotência – e sobreviver em meio de tal hostilidade pode, a muito curto prazo, revelar-se uma tarefa demasiado exigente para qualquer ser humano.


Temo que ainda não tenhamos chegado tão fundo quanto poderemos chegar. E que nem a presença, no coração da estrutura, de uma figura tão consensual como José Couceiro poderá evitar que continuemos a descer. Mas eu sou um pessimista, claro. Nada daquilo que há anos venho prevendo aqui se concretizou, pois não?


CRÓNICA DE FUTEBOL ("Futebol: Mesmo").


Jornal de Notícias, 24 de Dezembro de 2010


(imagem: © www.sportydesktops.com)

3 comentários:
De jorge espinha a 25 de Dezembro de 2010 às 22:51
Caro Joel


E como será o dia de amanhã? Prefigura-se (chavão horrível, eu sei) alguém no meio do nevoeiro para pôr a casa em ordem? É a casa passível de ser posta em ordem? Quem terá força para varrer o SCP de todos os organismos e suborganismos de gestão?Quando foi a íltima vez que tivemos um presidente a sério?Já passámos o ponto de não retorno?
De Alberto Alves a 31 de Dezembro de 2010 às 20:22
O Sr Dr Eng e mais outros graus é um papagaio que fala demais. Eu não me esqueço duma entrevista há uns largos anos em que ele era Presidente do Sindicato dos Jogadores em que afirmava que se falasse o sistema ia abaixo. Esteve a seguir no Sporting e a única coisa que fez ou não fez foi ver o Peixe, Costinha, Martins e outros encostados a treinar à parte. E tinha sido Presidente deles. Engraçado não é? Depois foi para o FCP e a única coisa que ganhou foi uma gravata do Pinto. Para mim é mais um atrofiador que vai mamar mais uns milhares ao fim do mês. Mas como este País está no top mundial no cultivo de invertebrados, não se pode pedir mais.
De jorge espinha a 1 de Fevereiro de 2011 às 17:38
caro Joel


Este comentário não é sobre Couceiro. Aliás eu já não sei o que há para comentar. O SCP deixou sair o seu único fazedor de milagres , e fê-lo quase às escondidas, nem houve um jogo de homenagem para que os adeptos podessem fazer uma despedida condigna. Jorge Gonçalves volta ! Estás perdoado, pelo menos durante um curto espaço de tempo ainda houve lugar para o sonho, com JEB e companhia nem isso houve.

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Joel Neto


Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974, e vive entre o coração de Lisboa e a freguesia rural da Terra Chã, na ilha Terceira. Publicou, entre outros, “O Terceiro Servo” (romance, 2000), “O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (contos, 2002) e “Banda Sonora Para Um Regresso a Casa” (crónicas, 2011). Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil, para além de Portugal. Jornalista de origem, trabalhou na imprensa, na televisão e na rádio, como repórter, editor, autor de conteúdos e apresentador. Hoje, dedica-se sobretudo à crónica e ao comentário, que desenvolve a par da escrita de ficção. O seu novo romance, “Os Sítios Sem Resposta”, sai em Abril de 2012, com chancela da Porto Editora. (saber mais)
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